terça-feira, 27 de abril de 2010

Esmagados pela Graça.


Por Ricardo Gondim

Li Os Miseráveis e me assombrei com a genialidade de Victor Hugo. O personagem central da narrativa é Jean Valjean, um egresso das Galés, Impressionei-me como Victor Hugo construiu a historia desse homem bom que lutou contra circunstâncias difíceis e gente perversa. Livre há quatro dias, Jean Valjean não encontrará quem o acolhesse devido ao seu passado. Sua Fama o prejudicava. Cansado, com frio e faminto, ele precisava descançar. Sabendo que o prenúncio de chuva o mataria, Valjean procurou albergue. Em vão, até os cachorros o enxotaram. Até que uma pessoa lhe indicou a casa do Bispo da cidade, D. Bienvenu. Esse santo homem de Deus lhe daria hospedagem.
Quando bateu a porta da casa do Bispo, Jean Valjean não escondeu sua vida pregressa. Mesmo assim, D. Bienvenu o hospedou, convidou-o para dividir a ceia naquela noite e ainda lhe forneceu bons lençóis para a noite de sono. O ex-presidiario, entretanto ainda sofria os efeitos de sua vida no crime. Valjean estava assustado com o mundo e como um animal encurralado, queria se defender. Resolver fugir de madrugada roubando os talheres de prata da casa. Contudo, não conseguiu ir muito longe. Logo que os guardas o pegaram, reconheceram as insígnias do bispo na prataria e o conduziram para ser reconhecido antes de devolvê-lo ao cárcere.
D. Bienvenu não só o perdoou como o libertou quando lhe tratou com deferência e lhe fez uma pergunta desconcertante: " estimo torna-lo a vê-lo. Mas eu não lhe dei também os castiçais? são também de prata como os talheres e poderão render-lhe bem duzentos francos. Porque não os levou também"?
Diante do gesto nobre de relevar o roubo e ainda oferecer os castiçais, Jean Valjean " arregalou os olhos e contemplou o venerado Bispo com tal expressão que nenhuma lingua humana poderia descrever".
O Perdão e o amor gratuito de D. Bienvenu impactaram Valjean de tal maneira que sua vida mudou para sempre. O bispo não só o livrara da acusação da léi como o tornara, dai em diante escravo da bondade.
A gentileza, ou a Graça, esmagou Jean Valjean. Ele nunca mais pôde ser igual. Ao liberta-lo, fez dele servo de um gesto de grandeza.
Paulo dis em Romanos que Deus conduz as pessoas ao arrependimento por sua bondade. " ou será que você despreza as riquezas de sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de deus o leva ao arrependimento?" ( Romanos 2:4).
Portanto, Victor Hugo acertou quando descreveu um pastor de almas como a encarnação da Graça divina. Só o amor tem o poder de transformar a vida de qualquer pessoa. Ninguém muda com ameaças, os arrazoamentos doutrinarios são impotentes para convencer alguém do que é certo. Jesus ensinou que seus discipulos seriam conhecidos pelo amor e não por uma teologia correta. " Com isso todos saberão que vocês são meus discipulos, se vcs se amarem uns aos outros" ( João 13:35).
Quando Deus busca arrependimento, não deprecia seus filhos, quando quer humilhar, prefere exaltar, quando deseja constranger, deixa de lado o rigor da léi e opta pelo elogio. Ao invés de ralhar Deus simplismente recebe o pecador com festa e aposta no seu futuro. Foi assim que Jesus descreveu o Amor do Pai pelo filho pródigo.
O filho voltava para casa ainda sujo, sem se quer mostrar obras dignas de areependimento, mas o Pai apressado o abraçou, colocou o anel em seu dedo, calçou-lhe os pés e o agasalhou com uma capa. O rapaz havia ensaiado um pequeno paragrafo pedindo para ser recebido como "um dos empregados" da casa, mas o velho o interrompeu e deu ordens para que preparassem a festa do bezerro cevado. Apartir daquele dia , o filho se tornou escravo da bondade. A generosidade com que foi recebido, mesmo depois de ter se comportado como um rebelde inconseqüente, causou um impacto tão grande que ele nunca mais poderia voltar a ser o mesmo.
O mundo está cansado. O mundo parece ir de mal a pior. fomes, guerras, pestes inundam o dia-a-dia e as pessoas precisam sentir se amadas. O evangelho traz a mais alvissareira noticia : Deus não fecha a porta. Ele contunua a receber os pecadores para restabelecer-lhes a dignidade, sem prometer castigo. Deus acolhe e honra, dignifica e liberta, desobriga e gera compromisso.

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