quinta-feira, 22 de abril de 2010

Como Aprendi a gostar de Dostoiévski.


Por Ricardo Gondim

Falaram me bem do romancista russo Fiodor M. Dostoiévski e eu, curioso, comprei os irmãos Karamázov. A principio, não acostumado aos nomes dos personagens, não gostei da narrativa.
Mas logo deliciei-me com Dostoiévski, e hoje o considero um dos maiores escritores de todos os tempos.
IVAN, o personagem agnostico da familia Karamasov, era um grande inimigo do cristianismo. Para enriquecer seus argumentos e contestar seu irmão ALIÓCHA, um crente genuíno, ele criou a historieta do Grande Inquisidor. Ivan imaginou CRISTO voltando à terra, pela segunda vez em Madri, durante a inquisição.
Enquanto Jesus operava milagres, curando e ressucitando mortos, o cardeal da cidade, o Grande Inquisidor, reconheceu o Senhor e o prendeu. Na penitenciária, questionou Cristo para saber porque ele voltou. O Dialogo tornou-se tenso e cheio de revolta: "És tu, és tu? - Não recebendo resposta, acrescentou rapidamente: _ Não digas nada, cala-te. Aliás, que mais poderias dizer? Sei demais. Não tens o direito mde acrescentar uma palavra mais ao que disseste outrora. Porque vieste estorvar-nos?
O Sacerdote estravazou sua ira porque Cristo havia proposto uma liberdade diferente da pregada pela Igreja. Raivoso, alegou que "foram necessario 15 seculos de rude labor" para restaurar o estrago feito por Jesus e devolver aos homens o que ele considerava a verdadeira liberdade. Diante de Cristo manietado, continuou mostrando que a religião possuia uma liberdade maior que a de Jesus: " fica sabendo que jamais os homens se acreditaram tão livres como agora, e, no entanto eles depositaram a liberdade humildemente a nossos pés". O Grande Inquisidor então passou a ensinar para Jesus que seu maior erro foi acreditar que os seres humanos valorizam o livre-arbitrio. A Igreja teria corrigido essa falha. Tanto ele como seus colegas de sacerdocio vinham se esforçando por suprimir a liberdade proposta por Jesus como proposito de tornr os homens mais felizes.
O Grande inquisidor acusou Cristo de haver fracassado na tentação do deserto. Ele só recusara a proposta do diabo de transformar pedras em pão ( Mat 4:1-11), para não privar a humanidade de experimentar a verdadeira liberdade. Caso ele operasse o milagre, os homens teria a obrigação de se tornarem seus discipulos, pois a sobrevivencia dependeria de futuras intervenções divinas . Jesus achava que estaria comprando a lealdade dos seus seguidores a troco de pão. E a acusação do inquisidor concentrou-se em mostrar a inutilidade desta opção do Senhor, pois as pessoas não querem viver livres.
O Grande inquisidor usa do mesmo argumento quando afirma que Cristo errara ao abdicar a prerrogativa de pedir que Deus o livrasse fazendo-o aterrissar suavemente caso se jogasse do pináculo do templo.
Segundo o algoz sacerdote, era em vão querer discipulos por amor. As pessoas desejam seguir a Deus em troca de milagres e maravilhas. Elas negociariam sua liberdade pela segurança de um mundo previsível, sempre controlado por constante intromissão de Deus.
O religioso ainda declara que Cristo cometera um monumental deslize ao recusar a oferta do diabo de conquistar os reinos do mundo.
Bastava que Ele o adorasse por um instante e não haveria mais guerras, fomes ou injustiças no planeta. Os reinos pertenceriam a ele e a ordem estaria segura.
Ao ler Dostoiévski percebo tanto a universalidade como como contemporaneidade de seu pensamento. A religião anda na contra-mão do ensino de Jesus quando promete um mundo sem percaços e sempre previsivél. Quando "Os irmãos Karamazov" foi escrito, essa teologia utilitaria, que promete dourar a pilula da vida, ainda não se difundira tanto, mas foi amplamente denunciada. Jesus não quer ser amado pelo que Ele dá, mas pelo que Ele é.
Os evangelicos brasileiros precisam acordar para o cerne do Evangelho que não promete um mundo seguro, sem perigos e livre de sofrimentos. A boa noticia é que o Senhor se dispõe a nos acompanhar em qualquer circunstancia. Ouve-se frequentemente entre os evangelicos que Deus dará tudo o que seus filhos pedirem se, prostrados, o adorarem. Cuidade! Essa frase foi proferida por Satanas.

2 comentários:

  1. ótimo texto manu..penso da msm maneira..hoje os cristãos estão atrás da benção e nao mais de QUEM abençoa..vão a Deus como quem vai a um almoxarifado...só chegam pedem e vão embora...se recebem creem q é por que estão fazendo coisas boas e por isso "merecem" recebe-las ,se nao recebem é pq Deus abandonou e logo migram pra outra denominação a procura mais uma vez de um"amoxarifado" aberto

    ResponderExcluir