segunda-feira, 28 de junho de 2010

Gondim "auto-excomunhão" do movimento evangélico?



Excomunhão.

Ricardo Gondim


Estou ouvindo o áudio book, “Generous Orthodoxy”, do Brian McLaren, presenteado por meu amigo Carlos Alberto Junior.

Espero e oro para que alguma editora brasileira se apresse em traduzi-lo (quem sabe inglês deveria comprá-lo imediatamente, aproveitando que o dólar está barato).

Quando ouço esse pessoal da “Emergent Church”, com quem tenho grande afinidade, mais me convenço de que o movimento evangélico, ou “evangelical”, permita-me o estrangeirismo, é um barco que faz água.

Há algum tempo, afirmei que não me considero mais “evangélico” e causei espanto entre meus pares. Porém, cada dia que passa, quanto mais notícias ruins sobem dos porões denominacionais, e quanto mais o Youtube mostra piadas sobre o besteirol dos púlpitos, mais convencido fico de que nada tenho a ver com o que foi meu berço religioso.

Minha “auto-excomunhão” do movimento evangélico não é estética, embora eu não tolere mais ouvir os cânticos de poesia rala e de música pobre que fazem sucesso; não agüento mais hinos de guerra, convocando os crentes para pisar os inimigos. Nem falo das coreografias das danças. Horrorosas!

Minha “auto-excumunhão” do movimento evangélico não é ética, embora eu tenha nojo do grande número de políticos que, em nome de Deus, exercem seus mandatos com as mesmas práticas que os mais nefastos; não suporto mais conviver com evangelistas e pastores, donos de um discurso radical quanto ao dogma, ao credo, ao moralismo sexual, e que sabem papagaiar a Reta Doutrina, mas se comportam como inescrupulosos manipuladores, sempre ávidos por dinheiro.

Minha “auto-excomunhão” do movimento evangélico não é doutrinária. Eu continuo crendo na Trindade; tenho a Jesus Cristo como Senhor e Salvador de minha vida; falo em línguas estranhas desde minha experiência pentecostal; creio e dou testemunho de milagres; oro por libertação de endemoninhados e aguardo novos céus e nova terra.

Minha “auto-excomunhão” do movimento evangélico aconteceu porque não posso conviver com auto-proclamados “teólogos” que guardam suas doutrinas e conceitos como verdadeiras vacas sagradas; não gosto do clima de caça às bruxas, que apedreja e queima quem ousa mexer em “cláusulas pétreas”.

Não tolero a intolerância, não aceito a exclusão, não me sinto bem com discursos fundamentalistas. Acredito que toda interpretação é interpretação e nada mais, e que ninguém – nem Santo Agostinho, nem Armínio e nem eu – tem a última palavra quanto a verdade.

Minha “auto-exclusão” do movimento evangélico aconteceu porque cansei de ficar tentando ler a Bíblia com o literalismo fundamentalista. Acho fatigante ter que, constantemente, fazer ginástica para explicar com a exegese própria dos evangélicos, textos que discriminam as mulheres em Deuteronômio, ou aquele que Deus manda um espírito de mentira para confundir os profetas.

Não quero mais fazer contas para explicar para os adolescentes como a arca de Noé pôde abrigar todos os insetos, mamíferos, aves, répteis e batráquios do planeta.

Minha “auto-exclusão” do movimento evangélico aconteceu porque não tenho mais estômago para ficar ouvindo sermão do tipo: “Deus é poderoso, ele vai fazer milagre”, e fechar meus olhos para os exilados de Darfur, ou para os miseráveis que esperam nas filas dos ambulatórios imundos da baixada fluminense.

Não quero viver a fé ensimesmada e privatizada que tanto se alastrou, e que busca, ou convive, com o conceito burguês de mundo. Na verdade, não consigo mais orar pedindo bênção, proteção, imunidade, prosperidade ou livramento. Não quero ter que exercitar fé para “ver Deus abrir as janelas do céu”.

Minha “auto-exclusão” do mundo evangélico aconteceu porque tenho sede de ser íntimo de Deus; porque, intuitivamente, percebo que a Bíblia possui uma riqueza imensamente maior do que me ensinaram; quero viver na liberdade do Espírito, sem medo das implicações e dos desdobramentos mais “perigosos” dessa decisão.

Minha “auto-exclusão” do mundo evangélico aconteceu porque me apaixonei por Deus de uma maneira que considero linda - mas que fica na contramão da maioria.

Estou tão absolutamente cheio de curiosidade sobre dimensões da verdade que, reconheço, jamais compreenderei completamente; estou com sede de ler como nunca li, rir como nunca ri, dançar como nunca dancei; orar como nunca orei. Quero glorificar a Deus com leveza, sem paranóias de que o diabo vai me pegar se eu der brecha ou que serei punido com rigor se pisar na bola.

Minha “auto-exclusão” do mundo evangélico aconteceu porque hoje vejo meu Próximo como amado de Deus e não mais como filho da ira; de repente, comecei a perceber que a Graça foi espalhada sobre a terra assim como o sol, que indiscriminadamente abençoa.

Tento desvencilhar-me da linguagem excludente dos crentes. Já não tenho medo de dizer que aprecio “música do mundo”, que considero os "Médicos Sem Fronteiras" uma bela expressão do amor de Deus, e que vou estudar, com enólogos, os mistérios dos melhores vinhos. Antes que me esqueça, não acho que treinar para uma maratona seja perda de tempo.

Não me definirei por nenhum movimento porque acho que os movimentos, qualquer um, são cercas que empobrecem; não defenderei uma teologia específica, nem a Relacional, porque não acredito que elas sejam suficientes para explicar o Eterno – Gosto da frase de Paul Tillich: “Deus está para além de Deus".

Para onde vou daqui pra frente? Anseio caminhar humildemente com meu Senhor; vou tentar ser justo, desenvolver um coração misericordioso e amar a paz.

Soli Deo Gloria.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Escutatória





Rubem Alves





Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória.

Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir.

Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.

Escutar é complicado e sutil.

Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.

É preciso também não ter filosofia nenhuma.

Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.

Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.

Parafraseio o Alberto Caeiro:

Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito.

É preciso também que haja silêncio dentro da alma.

Daí a dificuldade:

A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor...

Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.

Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...

E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade.

No fundo, somos os mais bonitos...

Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64.

Contou-me de sua experiência com os índios: Reunidos os participantes, ninguém fala.

Há um longo, longo silêncio.

Vejam a semelhança...

Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio...

Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as idéias estranhas.

Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala.

Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.

Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos...

Pensamentos que ele julgava essenciais.

São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.

Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades.

Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza.

Na verdade, não ouvi o que você falou.

Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala.

Falo como se você não tivesse falado.

Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo.

É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.

Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.

O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.

E, assim vai a reunião.

Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos.

E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.

Eu comecei a ouvir.

Fernando Pessoa conhecia a experiência...

E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras.

A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.

No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos.

Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia...

Que de tão linda nos faz chorar.

Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio.

Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também.

Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Amizade





Por Daisaku Ikeda

No decorrer da vida, nós desfrutamos a companhia de diferentes tipos de amigos. Os amigos de nossa infância que nós podemos lembrar vagamente. Os amigos da escola primária. O ‘melhor’ amigo da adolescência. Colegas que encontrarmos no serviço. Amigos que compartilharmos bons momentos. Companheiros de farra. E na medida que envelhecemos, um amigo na qual podemos tomar um chá juntos enquanto conversamos.

Não importa em que estágio da vida ou que tipo de amizade. Esta é uma pura conexão entre duas pessoas, um elo de sinceridade mútua, imune aos cálculos de perdas e lucros.

Nas amizades da infância, a criança não é madura o suficiente para valorizar o outro indivíduo com profundidade. Mas, na adolescência aprendemos através do ato de se ter um amigo, acreditar nele e corresponder a sua confiança quer seja por um promessa, que temos a primeira experiência em desafiar a si mesmo e a prezar outras pessoas.

Mesmo entre os quase 6 bilhões de habitantes neste planeta, é muito raro encontrar amigos genuínos e incondicionais nas quais podemos expor o nosso ‘eu’ de modo integral e que serão capazes de nos compreender os nossos sentimentos e pensamentos sem a necessidade de palavras. Tal preciosa amizade pode ser mantida no decorrer de anos.

Eu sinto que é especialmente importante para as mulheres não cresceram longe de seus amigos próximos quando casam ou quando ocorrem grandes mudanças em suas vidas. A medida que envelhecerem, seus pais poderão falecer, poderá ocorrer um divórcio ou mesmo a morte do cônjuge. Este é o inevitável ritmo da vida. Os filhos se tornam independentes e deixam o lar. E no decorrer dos anos, o senso de isolamento na mulher pode aumentar.

Assim, eu penso que a chave para se viver uma vida plena reside no ato de termos ao menos um amigo verdadeiro na qual podemos conversar sobre tudo. Nós choramos por sua dor e dançamos com alegria por sua felicidade. E esta troca de emoções nos torna abertos para o mundo e outras pessoas. Ser uma pessoa de espírito generoso que respeita o caráter e personalidade daqueles ao seu redor – mesmo que estes sejam diferentes – é a base da amizade.

Especialmente valiosas são as amizades que transcendem as barreiras de raça, nacionalidade e outras barreiras. Eu me lembro claramente quando li o livro de Romain Rolland sobre a amizade de duas pessoas. Christophe e Olivier que tinham características contrastantes. Christophe era alemão, Olivier era francês. Enquanto Christophe era forte e cheio de vida, Olivier era fisicamente fraco mas de extrema sensibilidade. A medida que a amizade entre os dois crescia, os dois "se vislumbravam com o que descobriam no convívio mútuo. Havia tanto o que compartilhar…"

Christophe e Olivier debatiam vigorosamente sobre as diferenças entre seu povo, arte, liberdade e humanidade e no decorrer das conversas acabaram descobrindo um novo mundo. Algumas vezes, eles se exaltavam, nos momentos em que não conseguiam entender um ao outro, mas esta amizade foi capaz de sobreviver mesmo quando a França e a Alemanha estava prestes a entrar em guerra uma contra a outra.

Eu tenho a absoluta convicção de que quando construimos redes de amizade que atravessam as fronteiras nacionais, compreendendo que todos somos partes de família humana, nós seremos capazes de sobrepujar todas as barreiras étnicas e religiosas. Por fim, serão estes laços de amizade que irão criar um mundo pacífico.

Desta forma, como podemos dar início a este processo no âmbito pessoal ? Muito simples, basta nos munirmos de coragem, sermos capazes de abrir o coração e começarmos verdadeiros diálogos. Assim, novas e inesperadas amizades poderão surgir.

Fazer e desenvolver amizades depende de cada um, não de outra pessoa. Tudo provém da sua própria atitude e iniciativa. As relações humanas são como um espelho. Logo, se pensa de si mesmo: ‘Caso ele fosse um pouco mais gentil comigo, eu poderia me abrir com ele’, em compensação, a outra pessoa poderia pensar: ‘Caso ela fosse mais franca comigo, eu poderia ser mais gentil’.

Caso haja sinceridade por sua parte, naturalmente, estará cercado de bons amigos algum dia. As pessoas que não temem ser autênticas são capazes de fazer amigos de confiança. Um verdadeira amizade conecta indíviduos auto-confiantes que compartilham um laço em comum. Da mesma forma que um bambuzal, cada bambu se impõe ereto e independente em direção aos céus. Mas, abaixo do nível do solo, aonde ninguém observa, as suas raízes são todas entrelaçadas.

Em contrapartida, a amizade entre pessoas que isentas de uma clara direção na vida pode se tornar estagnada ou dependente. A amizade deve ser mais do que um simples elo com pessoas que passam a maior parte do tempo ao seu lado, o que lhe emprestam dinheiro ou simplesmente são gentis. A verdadeira amizade envolve um comprometimento real e nos impulsiona a cuidar da outra pessoa, mesmo que possamos arriscar o nosso próprio bem-estar em alguma ocasião.

É fácil se encontrar maus amigos que irão encorajar as nossas fraquezas. Em contraste, um bom amigo é realmente difícil de se encontrar. O sr. Makiguti, o professor primário que fundou a Soka Gakkai, dizia que a amizade pode ser dividida em três tipos. Por exemplo: um amigo precisa de dinheiro emprestado. O ato de emprestar o dinheiro é considerado um ato de pequeno bem, enquanto que, ajudá-lo a encontrar um emprego é classificado como um ato médio. Entretanto, caso seu amigo tenha o caráter de ser preguiçoso, então ajudá-lo desta forma somente irá perpetuar seus hábitos negativos.

Neste caso, a verdadeira amizade está em ajudar esta pessoa a mudar sua natureza preguiçosa que é a causa fundamental do seu sofrimento. Um verdadeiro amigo geralmente diz o que algumas vezes não queremos ouvir, mas que é de extrema necessidade para que possamos nos manter ‘na linha’ e que cresçamos integralmente como seres humanos.

Somente um verdadeiro amigo pode tornar nossas vidas duas ou três vezes mais rica. Uma pessoa com tal amigo nunca irá se sentir perdida.

Fonte: Mirror Weekly – Semanário publicado na República das Filipinas – 14/09/1998

domingo, 13 de junho de 2010

O Bom Travesti.



por Rubem Alves

E perguntaram a Jesus: “Quem é o meu próximo?“ E ele lhes contou a seguinte parábola:

Voltava para sua casa, de madrugada, caminhando por uma rua escura, um garçom que trabalhara até tarde num restaurante. Ia cansado e triste. A vida de garçom é muito dura, trabalha-se muito e ganha-se pouco. Naquela mesma rua dois assaltantes estavam de tocaia, à espera de uma vítima. Vendo o homem assim tão indefeso saltaram sobre ele com armas na mão e disseram: “Vá passando a carteira“. O garçom não resistiu. Deu-lhes a carteira. Mas o dinheiro era pouco e por isso, por ter tão pouco dinheiro na carteira, os assaltantes o espancaram brutalmente, deixando-o desacordado no chão.

Às primeiras horas da manhã passava por aquela mesma rua um padre no seu carro, a caminho da igreja onde celebraria a missa. Vendo aquele homem caído, ele se compadeceu, parou o caro, foi até ele e o consolou com palavras religiosas: “Meu irmão, é assim mesmo. Esse mundo é um vale de lágrimas. Mas console-se: Jesus Cristo sofreu mais que você.“ Ditas estas palavras ele o benzeu com o sinal da cruz e fez-lhe um gesto sacerdotal de absolvição de pecados: “Ego te absolvo...“ Levantou-se então, voltou para o carro e guiou para a missa, feliz por ter consolado aquele homem com as palavras da religião.

Passados alguns minutos, passava por aquela mesma rua um pastor evangélico, a caminho da sua igreja, onde iria dirigir uma reunião de oração matutina. Vendo o homem caído, que nesse momento se mexia e gemia, parou o seu carro, desceu, foi até ele e lhe perguntou, baixinho: “Você já tem Cristo no seu coração? Isso que lhe aconteceu foi enviado por Deus! Tudo o que acontece é pela vontade de Deus! Você não vai à igreja. Pois, por meio dessa provação, Deus o está chamando ao arrependimento. Sem Cristo no coração sua alma irá para o inferno. Arrependa-se dos seus pecados. Aceite Cristo como seu salvador e seus problemas serão resolvidos!“ O homem gemeu mais uma vez e o pastor interpretou o seu gemido como a aceitação do Cristo no coração. Disse, então, “aleluia!“ e voltou para o carro feliz por Deus lhe ter permitido salvar mais uma alma.

Uma hora depois passava por aquela rua um líder espírita que, vendo o homem caído, aproximou-se dele e lhe disse: “Isso que lhe aconteceu não aconteceu por acidente. Nada acontece por acidente. A vida humana é regida pela lei do karma: as dívidas que se contraem numa encarnação têm de ser pagas na outra. Você está pagando por algo que você fez numa encarnação passada. Pode ser, mesmo, que você tenha feito a alguém aquilo que os ladrões lhe fizeram. Mas agora sua dívida está paga. Seja, portanto, agradecido aos ladrões: eles lhe fizeram um bem. Seu espírito está agora livre dessa dívida e você poderá continuar a evoluir.“ Colocou suas mãos na cabeça do ferido, deu-lhe um passe, levantou-se, voltou para o carro, maravilhado da justiça da lei do karma.

O sol já ia alto quanto por ali passou um travesti, cabelo louro, brincos nas orelhas, pulseiras nos braços, boca pintada de batom. Vendo o homem caído, parou sua motocicleta, foi até ele e sem dizer uma única palavra tomou-o nos seus braços, colocou-o na motocicleta e o levou para o pronto socorro de um hospital, entregando-o aos cuidados médicos. E enquanto os médicos e enfermeiras estavam distraídos, tirou do seu próprio bolso todo o dinheiro que tinha e o colocou no bolso do homem ferido.

Terminada a estória, Jesus se voltou para seus ouvintes. Eles o olhavam com ódio. Jesus os olhou com amor e lhes perguntou: “Quem foi o próximo do homem ferido?“
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Nesses ultimos meses, Rubem Alves, tem sido um amigo a distância para mim
seus textos, suas reflexões e sua maneira instigante e provocativa de escrever
me enriquecem muito. Espero que reflitam no texto.

Bjos do Tom

terça-feira, 8 de junho de 2010

O Pálido ponto azul.

Antes de ler o texto, é necessário ver o video são somente 5 minutos, para o melhor enriquecimento da informação.

http://www.youtube.com/watch?v=EjpSa7umAd8

A Partir desse ponto de observação, a Terra talvez não apresentasse nenhum interesse especial. Para nós, no entanto, ela é diferente. Olhem de novo para o ponto. É ali. É a nossa casa. Somos nós. Nesse ponto, todos aqueles que amamos, que conhecemos, de quem já ouvimos falar, todos os seres humanos que já existiram, vivem ou viveram as suas vidas. Toda a nossa mistura de alegria e sofrimento, todas as inúmerasreligiões, ideologias e doutrinas econômicas, todos os caçadores e saqueadores, heróis e covardes, criadores e destruidores de civilizações, reis e camponeses, jovens casais apaixonados, pais e mães, todas as crianças, todos os inventores e exploradores, professores de moral, políticos corruptos, “superastros”, “lideres supremos”, todos os santos e pecadores da historia da nossa espécie, ali – num grão de poeira suspenso num raio de sol.
A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pensem nos rios de sangue derramados por todos os generais e imperadores para que, na glória do triunfo, pudessem ser os senhores momentâneos de uma fração desse ponto. Pesem nas crueldades infinitas cometidas pelos habitantes de um canto desse pixel contra os habitantes mal distinguíveis de algum outro canto, em seus freqüentes conflitos, em sua ânsia de recíproca destruição, em seus ódios ardentes. Nossas atitudes, nossa pretensa importância, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no Universo, tudo é posto em dúvida por esse ponto de luz pálida. O nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante. Em nossa obscuridade, em meio a toda essa imensidão, não há nenhum indício de que, de algum outro mundo, virá socorro que nos salve de nós mesmos. A Terra é, até agora, o único mundo conhecido que abriga a vida. Não há nenhum outro lugar, ao menos no futuro próximo, para onde nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Goste-se ou não, no momento a Terra é o nosso posto.
Tem-se dito que a astronomia é uma experiência que forma o caráter e ensina humildade. Talvez não exista melhor comprovação da loucura das vaidades humanas do que esta distante imagem de nosso mundo minúsculo. Para min, ela sublinha a responsabilidade de nos relacionarmos mais bondosamente uns com os outros e de preservarmos e amarmos o pálido ponto azul, o único lar que conhecemos.

Em 1977, como parte do programa de exploração interplanetária batizada de Voyager,foi lançada na direção de Saturno a sonda Voyager I. Após completar a sua missão, em 1990, uma última foto foi tirada em direção ao planeta Terra, a uma distância de 6.4 bilhões de quilômetros. Esta fotografia ganhou fama e foi batizada de Pale Blue Dot (ou pálido ponto azul), que mais tarde inspirou a confecção de um livro homônimo do brilhante astrônomo norte-americano Carl Sagan, que na época fazia parte do projeto e havia solicitado que a imagem fosse capturada pela sonda.


Na imagem acima, destacada pelo círculo azul, o planeta Terra se apresenta como um insignificante ponto no universo. Olhos desavisados nem ao menos perceberiam sua presença. Não há nada de especial neste ponto luminoso, exceto para nós, que o habitamos. Este é o planeta no qual residimos e que serviu de testemunha para todos os feitos da humanidade. Não conhecemos (ainda) outra forma de vida, senão aquela que aflorou em solo terrestre.

Para nós, seres humanos, é fácil imaginar que todo o universo gira em torno de nossa jovem existência, de nosso planeta tão rico em vida, e tão facilmente desprezamos o fato que nada temos de especial neste colossal universo, senão o fato de que fomos afortunados o suficiente para proporcionar, em dado momento, que a célula primordial viesse a existir.

Dentre tantos planetas, só a Terra possui vida;. Dentre bilhões de planetas que flutuam no nosso universo, não é nada impressionante o fato de a vida ter aflorado em ao menos um deles. Imagine que mesmo se a chance fosse de um em um milhão, ainda assim haveria uma alta porcentagem de favorecimento a alguns desses planetas.

É muito provável, ainda, que existam outros sistemas onde tal fato também se deu. Não é descartada a possibilidade de outros planetas que carregam em seu solo alguma espécie de vida extraterrena, que pode ser, ou não,similar ao que conhecemos por vida. Seja qual for a situação, nossa possibilidade de comunicação com tais seres se vê separada por anos-luz.


Entretanto, como nos lembra bem Carl Sagan, apesar de insignificante, este é o nosso planeta. É tudo o que temos. Não conhecemos ainda meios de migração para outros planetas, e não há qualquer previsão que torne tal acontecimento possível. É preciso cuidar do que temos, pois é o único que temos.

Pense nisso.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Um Budista Cristão.




Um dos monges do mestre Gasan visitou a universidade em Tokyo. Quando ele retornou, ele perguntou ao mestre se ele jamais tinha lido a Bíblia Cristã.

"Não," Gasan replicou, "Por favor leia algo dela para mim."

O monge abriu a Bíblia no Sermão da Montanha em São Mateus, e começou a ler. Após a leitura das palavras de Cristo sobre os lírios no campo, ele parou.

Mestre Gasan ficou em silêncio por muito tempo.

"Sim," ele finalmente disse, "Quem quer que proferiu estas palavras é um ser iluminado. O que você leu para mim é a essência de tudo o que eu tenho estado tentando ensinar a vocês aqui."

Conto Zen.

Lendo essas palavras me lembro do um Pastor americano.

Tony Campolo, pastor Batista, em seu livro ‘Speaking My Mind’, conta uma história que traz esta mesma questão. Ele escreve:

“Um evangelista proeminente me contou sobre um encontro que teve com um não-cristão durante sua viagem à China. Enquanto lá, ele visitou um mosteiro, e ao entrar, notou um dos monges em profunda meditação. Impelido pelo Espírito, ele foi conversar com o homem, e com seu tradutor, explicou a história de Jesus. Abriu o Novo Testamento e mostrou-lhe o que a Bíblia ensinava sobre salvação. Enquanto ele falava, ele notou que o monge estava visivelmente movido. Na verdade, haviam lágrimas nos olhos do monge. Meu amigo, o evangelista, então disse, ‘Você não aceitaria Jesus em seu coração e permitiria ser seu Salvador pessoal?”

“O monge respondeu surpreendido, ‘Aceitá-lo?’ Como posso aceitá-lo em minha vida quando ele já está aqui? Todo o tempo em que você me contava sobre ele, eu ouvi seu Espírito dizendo, ‘Ele está falando de mim! Ele está falando de mim!’ Eu não preciso aceitá-lo. Ele já está em mim, afirmando a mensagem de sua Bíblia. Eu o conheci a muito tempo, muito tempo.”


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Definitivamente, Deus é livre para se revelar a quem Ele quizer.

Tom Rodrigues


quinta-feira, 3 de junho de 2010

Poder e sucesso, justiça e santidade



Por Jung Mo Sung

A nossa esperança e o nosso testemunho não podem ser fundados na fé em Deus-poder ou na divinização de alguma pessoa, grupo social ou instituição. A fé cristã nos apresenta um caminho inverso: ao invés da divinização de um ser humano muito poderoso ou de alguma instituição social (como o mercado) ou religiosa – proposta sedutora de muitas religiões e ideologias sociais –, o Evangelho de Jesus nos propõe um Deus que se esvazia do seu poder divino para entrar na história como escravo, e como escravo se assemelhar ao humano (Filipenses 2.6,7).

Deus se revela no esvaziamento do poder para mostrar que o poder e o sucesso não são sinônimos da justiça e da santidade. Pessoas ou igrejas que se consideram justas e santas porque são ricas e/ou poderosas ou porque têm muito ibope não conhecem a verdade sobre Deus e sobre o ser humano. Não é a riqueza que lhes dá dignidade e justifica a sua existência; a nossa existência está justificada e nós somos dignos antes da riqueza, poder ou sucesso, pois nós somos justificados pela graça de Deus que se esvaziou do poder porque ama gratuitamente a toda a humanidade e a toda a criação.

Essa fé e esperança podem ser experienciadas quando perseveramos na nossa opção pelos pobres e por uma Igreja mais servidora do Povo de Deus, mesmo quando a contabilidade de nossa luta e a frustração pessoal nos diz que não há mais por que esperar. No momento em perseveramos somente porque amamos é que podemos testemunhar esta esperança que é a esperança cristã, que nasce da morte na cruz de um Deus encarnado.

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Jung Mo Sung é professor no Programa de Pós Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo e concentra suas pesquisas na relação entre teologia/religião – economia – educação.