domingo, 13 de fevereiro de 2011

MARA SALVATRUCHA


Continuando na apresentação das referências e das tatuagens de cadeia, agora trago uma que me chamou bastante atenção pelo excesso e pela localização de suas tatuagens. A MS 13 (como é abreviado seu nome) é uma gangue que começou nos anos 80 com imigrantes fugitivos da guerra civil de El Salvador, instalados nas áreas de baixa renda de Los Angeles. Porém, esse fluxo de imigrantes buscando emprego e moradia não foi bem recebido pela população local (mais precisamente pelas gangs já existentes) que acabaram tornando-se vítima da violência das gangues já existentes.

Para se defender das hostilidades os ex-guerrilheiros se juntaram, e a gangue logo ficou conhecida como a mais violenta da região, substituindo rapidamente seus rivais. Ganharam territórios e pontos de venda de drogas, o que fez a quadrilha crescer ainda mais. Seu nome vem da combinação de “Mara”, gíria que significa “bando”, ou gangue de rua, e o termo “Salvatrucha”, um termo usado para designar pessoas vindas de El Salvador. Já o numero 13 é atribuído como homenagem a “Mexican Máfia”, gangue de mexicanos nos presídios californianos, onde a formação das quadrilhas não se dá mais por motivos bairristas, como eram nas ruas. Quando dentro dos presídios, as gangues passam a se agrupar por motivos étnicos, como a Arian Brotherhood e a Black Guerrilla Family. O numero 13 carrega também um significado mais próximo com a violência da gang, pois um jovem para se tornar membro da Mara, tem que passar por uma sessão de 13 segundos de espancamento. Um pouco depois, a partir de membros de outras gangues de mexicanos e alguns poucos desertores surge um grupo rival, a Mara 18, quase tão numerosa e igualmente temida, e que carrega este nome por ter se iniciado a partir da 18 street.

Toda essa movimentação de drogas e violência acabou resultando na deportação de membros da MS 13. Mas esta medida do governo americano não resolveu a situação, pelo contrario. De volta a El Salvador, a quadrilha cresceu rapidamente e tornou-se a maior do país, também se espalhou pela Guatemala, Honduras, e outros países da América, e seus integrantes chegam a aproximadamente 70 mil. O problema ficou então bem maior e levou, em 2004, Honduras e El Salvador a implantarem leis anti-gangues, onde um suspeito de pertencer a organizações criminosas poderia ser preso por até 12 anos. E ter uma tatuagem com referências às tais gangues, já era considerado prova suficiente para prender um suspeito, o que fez com que os iniciados na quadrilha, gradativamente parassem de se tatuar.




As tatuagens denunciavam, claramente, um “mara”, isto porque para merecer uma tatuagem da gang e entrar de vez para a família, o candidato tinha que matar um membro da gang rival. Só assim estaria apto a receber uma gravação com um MS ou um 18. Todas as imagens tatuadas desde a iniciação tinham algo que relacionasse com a quadrilha ou com a vida do crime (“mi vida loca” como eles comumente se referem). Seja escrita com letras góticas, manuscritas ou com base em letras de pichações, as homenagens ao bando se repente incansavelmente e dividem espaço nos corpos com outros elementos como lapides, grades, armas, e mulheres.

Mas antes destas leis discriminatórias, as tatuagens dos Maras Salvatrucha e dos Maras Dezoito tinham uma característica bem peculiar, principalmente entre tatuagens de cadeia, pois era comum ver os membros da gangue com tatuagens no rosto, pescoço e mãos, lugares difíceis de serem vestidos. Geralmente tatuagens de organizações criminosas tendem a ser mais discretas ou possíveis de serem escondidas, visando a possibilidade do indivíduo não ser facilmente reconhecido e passar despercebido, facilitando assim suas atividades criminosas. Como é o caso dos Yakuza, que tatuam o corpo inteiro, mas tradicionalmente essas tatuagens não podem ultrapassar o pulso, o tornozelo e o pescoço do mafioso.




Tatuar o rosto era comum entre a tribo Maori como prova de coragem, motivo de orgulho e prova de sua posição na hierarquia social, e estas inscrições corpóreas só eram permitidas a homens livres e nobres. Nas Maras, essas características de coragem e orgulho também são notadas, bem como um sentido de identidade pessoal/coletiva. Ao tatuar o próprio rosto com os símbolos de suas gangues, o jovem demonstra sua bravura e seu desejo de pertencer a “família” (como eles se chamam) assumindo permanentemente a identidade do grupo. Abrir mão das características físicas mais notáveis quanto a individualidade e identidade para carregar as marcas de seu bando no local mais visível do corpo “los maras” demonstram convicção e um forte comprometimento com o grupo, além do significado de braveza por ter passado por um ritual doloroso e com conseqüências para o resto da vida.

O que antes era inegavelmente particular, agora passa a pertencer ao coletivo.

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